A feira bienal, que existe desde 1972, recebe novatos e veteranos da moda em desfiles que são referência para a moda masculina no ocidente. Confira alguns destaques
Abrindo, oficialmente, o ano para a indústria fashion, a Pitti Uomo é a semana de moda masculina de Florença, na Itália. Considerada uma das principais propulsoras de estilo no ocidente, a feira bienal chega à 105ª edição celebrando a excelência na criação e produção de peças para os homens.
O designer convidado deste ano foi Luca Magliano, italiano que fundou uma etiqueta que leva seu sobrenome. O desfile, com algumas referências cinematográficas, prendeu a atenção do público e surpreendeu com uma enorme escadaria, por onde os modelos desciam.
No pavilhão central da Pitti, o estande de Brunello Cucinelli foi destaque — não só pelo tamanho, mas também pela quantidade de visitantes e sua coleção de outono, que segue clássica, mas com um toque de jovialidade. A perfeição do corte de Cucinelli está presente, mas a combinação inusitada entre gravatas de seda e tricôs rústicos ou jaquetas de couro mostra que a label, reconhecida como rainha do quiet luxury, no fundo, deseja gerar algum ruído.
Apesar dos nomes conhecidos, um dos destaques foi o recém-chegado no evento, Todd Snyder, responsável por inaugurar os desfiles com um show que surpreendeu os críticos europeus. Confira abaixo nosso top 3 dos acontecimentos da temporada.
A estreia de Todd Snyder (09/01)
Se Florença é o berço da Renascença, marcada por elementos clássicos e a valorização do passado, a escolha de um designer comercial americano para abrir os desfiles da temporada de moda na cidade foi um ato inusitado.
Snyder, que tem talento para prever os desejos do consumidor, é conhecido por suas criações inovadoras; seu grande segredo é olhar para o passado e pensar em novas formas de apresentar o que já existe. Com uma carreira marcada por collabs com outras marcas, o designer reservou parte de sua apresentação na Pitti a peças de sua nova coleção para a americana Woolrich (Black Label), de DNA outdoorsy. As criações incorporam o utilitarismo à alfaiataria moderna — uma combinação inusitada —, mesclando capuzes, fleece e botas pesadas a sobretudos e colarinhos.
Na segunda parte, dedicada a criações de sua marca própria, Todd Snyder não deixou o visual formal de lado, modernizando o visual para escritório com coletes e bermudas. O jeans também apareceu, e, embora o cor-de-rosa tenha dado as caras aqui e o azul chamado a atenção acolá, o Outono/24 de Snyder varia entre as paletas de cinza e marrom.
O destaque central vai para uma camisa de seda que estampa uma obra de Van Gogh, cortesia do Metropolitan Museum of Art, com quem Snyder colaborou recentemente. Ironicamente, o artista holandês pertence justamente ao movimento Modernista, que pôs fim ao Renascimento de Botticelli. Seria esse um sinal da nova fase na semana de moda florentina?
S.S. Daley e a parceria com Harry Styles (11/01)
Nos momentos seguintes ao encerramento de um desfile na semana de moda, espera-se que, quando bem-sucedido, o desfile ganhe as manchetes — ou, em tempos modernos, as redes sociais — com os highlights da nova coleção e resenhas sobre a apresentação. No caso da londrina S.S. Daley, não houve discussão sobre o sucesso das criações, uma vez que Harry Styles, um dos maiores nomes da indústria musical, anunciou sua entrada como investidor minoritário.
O relacionamento entre Styles e o designer Steven Stokey-Daley não é de agora; em 2020, o cantor apostou no estilista quando usou suas peças no videoclipe do hit “Golden”. Foi nesse momento que a etiqueta acelerou e, agora, bem estabelecida, o plano é focar na longevidade.
No fashion show que convenceu de vez o cantor fashionista, foram desfiladas peças divertidas, porém, perfeitamente usáveis. Daley, que, a princípio, pretendia estudar teatro ou literatura, costuma basear suas coleções em obras literárias — e, na Pitti, a inspiração foi um diário de 1935 de um estudante de Oxford, que, a cada dia, começava a escrita contando que estava “no quarto de Eliot”. Por isso, referências a pijamas, edredons e roupas íntimas dominaram a passarela — para quem conta carneirinhos na hora de dormir, um suéter brincou com a ideia.
O mood comfy é quebrado por elementos do oceano, simbolizado por peixes, uma jaqueta de óleo e chapéus, inspirados na obra “The Last Panic”, de E. M. Foster, cujo protagonista é um jovem pescador inglês. Já entrou na nossa lista de leitura.
O street style
A temporada de moda florentina não acontece apenas nas locações eleitas pelas marcas, mas também nas ruas. Um grande destaque, dessa vez, foram os acessórios de pescoço; as gravatas, por exemplo, foram adotadas de forma nada convencional — por dentro da calça, amarradas de forma assimétrica, afrouxadas ou em misturas de padronagens interessantes com as camisas. Em outros looks, o acessório clássico foi substituído por lenços estampados, em uma tentativa bem-sucedida de sair do óbvio.
O frio florentino obrigou os espectadores a pensarem em várias camadas, que, no fundo, tornaram os looks ainda mais interessantes.