O ano da virada financeira, com dicas de Luciana Seabra

03/01/2022 - por Juliana Lopes

Como assim, virada financeira? Que previsões são essas, We Pick? Vamos lá.

Fizemos uma super entrevista com Luciana Seabra, analista do mercado financeiro. Conversamos com ela por telefone para ajudar nossas leitoras e nossos leitores a pensar prosperidade em 2022. Passada a enxurrada de conteúdos de festa, podemos colocar a cabeça, as planilhas e as finanças no lugar. Prontas?

 

Luciana Seabra é CEO da casa de análises financeiras Spiti, recentemente sócia da holding Grupo Primo, das marcas Primo Rico e Finclass.

Com tantos analistas financeiros por aí, por que escolhemos Luciana? Porque ela tem um jeito agradável de explicar a organização das finanças para quem não é especialista. Por muito tempo o mercado falou apenas em “economês”, mas com ela é diferente. E outra: Luciana não ganha comissão dos fundos que indica, por isso só indica o que realmente confia. Já recusou propostas tentadoras de bancos e corretoras que a procuram para parcerias. “Seria um dinheiro a curto prazo, mas eu perderia a confiança de meus clientes, que compram minhas análises”, explica.

Ela é CEO e chefe de análise da Spiti, especialista em análise de fundos. Como a Spiti não é dona de fundos, não ganha comissão. A receita vem da venda de suas análises, relatórios e cursos. No grupo Primo, do qual virou sócia, todos os membros da sociedade assinaram um memorando de entendimento da independência de Luciana, para que ela possa falar bem e mal de produtos de qualquer corretor ou banco que analisar.

Depois de causar um certo estranhamento entre leitores do jornal Valor Econômico, para o qual escrevia em linguagem mais complicada, a “nova” Luciana conquistou espaço no mercado com sua fala mais fácil entre novatos e veteranos da área.Hoje sua carteira de investimento é copiada por grandes gestores, não só por quem está começando.

Nesse papo de 40 minutos, Luciana Seabra deu dicas de investimentos e de organização exclusivas para o We Pick. Salve para não perder porque esse conteúdo vale, literalmente, ouro. “Se conseguirmos ajudar as pessoas a fazerem reserva de emergência e previdência para os filhos já estaremos bem adiantadas”. Acompanhem as perguntas abaixo e preparem-se para anotar!

We Pick: Podemos ficar otimistas em 2022?

Luciana Seabra: 2022 é um ano que vai chacoalhar bastante por isso é importante organizar uma reserva de emergência e estar atenta a novas oportunidades de ganho também. A gente não tem uma bola de cristal, mas é um ano de eleição no Brasil. Então vai sacudir pra caramba. Por isso, mais importante do que nunca, se voce está começando a investir, ter uma reserva de emergência.

Sentimos que você transmite com muita delicadeza esse tipo de informação mais “parruda”sobre gestão financeira. Tem a ver com sua personalidade ou foi treino?

Ah, muito obrigada, gostei da pergunta que já vem com elogio (rs), muito obrigada. Por muito tempo o mundo dos investimentos esteve numa torre de marfim. De lá de cima, onde pessoas falavam de formas muito pomposas, usando jargões com ar de superioridade, linguagens que ninguém entendia. Isso trazia desinformação para as pessoas comuns que investem. Com os avanços na disseminação de informação apareceram conteúdos de investimento focados em muita ganância, tipo “você pode multiplicar seu patrimônio em 3 dias”, bem parecido com propagandas de dieta tipo “perca 30 kg em um mês”. Não gosto de informação inacessível e nem desse tom gritado de ganância. Não era coerente com a minha realidade nem da minha família, por isso parti para essa abordagem que você vê como delicadeza. Penso no meu cliente o tempo todo, que é a pessoa física que não entende de investimento, que não tem necessariamente 10 milhões para investir e estava ali abandonado.

As primeiras vezes que você teve que falar alguma coisa foi necessário adequar sua linguagem? 

Minha formação é em Comunicação e Economia. Minha ideia sempre foi comunicar. Fiz um mestrado em Teoria Econômica com o objetivo de aprender para democratizar. Comecei a trabalhar no jornal Valor Econômico e nessa época quem me lia era o público mais institucional, então meu texto era mais em cima do muro. Depois comecei a descobrir as ferramentas de storytelling e virei sócia da Empiricus. Sou mineira, a gente tem muitos “causos”, comecei a usar histórias da minha família para conectar. Criei conexão com as pessoas por não falar de forma fria. Já chamava de ‘você’, o que é proibido na comunicação tradicional, né? Circulo muito com grandes gestores brasileiros como o pessoal da XP, SPX, Dinamo. No começo deu um friozinho na barriga porque eles estranharam, mas com o tempo começaram a ler minhas newsletters e a me perguntar como falar com a massa digitalmente. 

Você percebe que as pessoas tem dificuldade de se organizar para investir? Como lidar com isso?

Eu entendo perfeitamente. As pessoas ficaram muito perdidas porque temos um ecossistema financeiro que se tornou muito complexo. No passado existiam só os bancos. Hoje tem os bancos, um monte de corretora, banco comprando corretora, corretora criando o próprio banco, e aí vira um caos para entender. Você entra num site e são  milhares de fundos, LCAs, CDBs, e claro que a pessoa fica perdida naquele meio. 

O que fazer então?

É claro que você vai sempre ouvir as pessoas falando em ações, em criptomoedas que estão super alta. Mas a primeira coisa que você tem que fazer é a sua reserva de emergência. Porque antes de você arrojar e colocar dinheiro em aplicações com alto potencial de retorno, que são arriscadas, você precisa fazer o básico. 

Como fazer isso?

O primeiro passo é calcular seu custo mensal mínimo. Quanto seria? Você vai ter que pagar o aluguel, vai ter que fazer uma boa compra do mês. Calcula também o Netflix, não tira pra não entrar em depressão (rs). Se você está num trabalho fixo aonde se sente segura, e não tem muitos dependentes, calcula um custo de 3 meses.  Se você tem uma vida de autônoma, mais instável, ou tem um monte de dependentes, multiplica isso por 12 vezes. E investe isso tudo de forma extremamente conservadora, como um Tesouro Selic, Tesouro Direto. Se precisar resgatar, resgata. Não é complexo, é só sentar, mapear seus gastos, multiplicar por 3, ou até 12, e investir. A partir daí você já se torna uma investidora sofisticada, porque não está mais na poupança.

Uau! Já viramos sofisticadas dessa forma?

Mas é verdade. Olha só, você deu um salto em relação a mais de 50% da população brasileira que ainda está na poupança, que não está investindo. Isso vale pra quem tem pouco e muito dinheiro. Quem tem menos dinheiro, tem mais risco de acontecer algo que não estava no  orçamento. Também vale para quem tem muito dinheiro investido em imóveis mas não tem liquidez na mão. É só a partir dessa reserva de emergência que você começa de fato a construir outros investimentos.

É legal ter dinheiro em bolsa?

Claro que é legal, mas eu não acho bom ter mais de 30% em bolsa. Tem que ser bem selecionado. Tem que ter uma pitadinha em dólar para melhorar sua carteira, eu gosto de ter uns 7,5% em dólar. Bolsas e fundos de ação são para longo prazo, a partir de 5 anos, mais ou menos, não é um negócio para você querer ganhar dinheiro para amanhã, entende? Amanhã pode ser bom ou horrível, mas em 5 anos a bolsa tende a trazer bons resultados. 

E as criptomoedas?

Eu gosto, mas tenho apenas 1% do meu patrimônio em criptomoedas. Se elas subirem, vou fazer um bom dinheiro com aquilo ali, mas se caírem não vai fazer diferença na minha vida. 

Qual idade para começar a investir? Pessoas com 25 anos que já estão investindo e aí as que tem mais de 30, 40 pensam: ‘Meu Deus, eu não fiz nada até agora!’

Eu recebo muito essa pergunta. Já tenho 36 anos, quase 40, e as pessoas falam como se a vida estivesse acabando! 40 anos é muito jovem. Temos mais umas duas vida pela frente. Conheço muita gente no mercado financeiro que ganhou um fundo de investimento quando tinha uns 13 anos, mas a minha vida não foi essa. Demorei muito para começar a investir. Um horizonte legal para você comprar a bolsa é 5 anos, então você pode separar um pedacinho do seu dinheiro para só contar com ele daqui a 5 anos.

Você recomenda investimento em Previdência privada?

Previdência é um produto super eficiente do ponto de vista do imposto, porque você pode deduzir do imposto, como gastos com educação e saúde, se são do tipo PGBL. Se você tem pelo menos 10 anos pela frente você tem um tempo bom para investir em previdência. Os horizontes de investimento para ter alto potencial de retorno são, como falei, a partir de 5 anos. Por isso 40 é cedo, 50 é cedo. Eu espero ter acumulado patrimônio relevante aos 60 anos, 70. Mas eu não me vejo parando tudo o que estou fazendo hoje. Se um dia eu quiser parar, não vou aos 70 anos passar todo o meu dinheiro para a renda fixa, posso esperar pra mexer uma parte aos 75, 80 anos.

Por que as pessoas falam mal de Previdência?

Todo mundo tem um tio, um avô que fala para fugir de Previdência. Isso acontece porque historicamente o Brasil tinha um mercado de Previdência com produtos ruins. Os mais conhecidos, aqueles que o gerente vai te sugerir na boca do caixa, são produtos muito caros. Mas de uns 4, 5 anos para cá esse mercado avançou absurdamente a ponto de muita gente mais velhas ainda nem conhecerem. Começaram a nascer umas previdências de gestores, de bons investidores profissionais que nunca olharam para a previdência e de repente começaram a perceber que era legal oferecer esse produto.

Por que apareceram recentemente melhores opções de Previdência?

Há gestoras muito conceituadas, que não são ligadas a bancos, como a Verde, SPX, a Ibiúna, construindo produtos muito legais na previdência. Que não investem só no Brasil, mas em juros, moeda e bolsas nacionais e internacionais. Isso aconteceu também porque a legislação hoje permite uma Previdência com investimentos mais variados. Quem investe em Previdência não fica trocando toda hora, e do ponto de vista dos gestores é uma vantagem vender para um investidor mais perene. Não estou falando para colocar toda a sua previdência em só uma corretora, mas variar. Até quem tem altíssimo patrimônio está investindo em previdência. 

Você inspirou a criação de uma previdência, a Super Prev, como tem sido isso?

A Superprev é um produto inspirado na minha carteira, eu não ganho nada nela, como não ganho nada em nenhum produto que eu recomendo, e meus clientes ficam felizes com isso. Isso nasceu como uma coisa muito informal e com o tempo as corretoras fizeram produtos inspirados na minha careira como a Vitro e a XP. Hoje há 2 bilhões de reais investidos na Superprev, é meu orgulho, cuido dela com muito carinho. Todo o mês entram 20 milhões de reais novos para as pessoas que já estão lá dentro. Mas é claro que eu tenho vontade de reabrir, estou o tempo todo conversando com os gestores. Sempre aviso quem me segue para me acompanhar porque quando abre a captação é super rápida. 

Enquanto a Superprev não abre, alguma dica de como montar uma Previdência?

Voce pode montar sozinha. Pode fazer pelo menos um triozinho. Posso até abrir aqui pra voce uma recomendação do nosso relatório. Um trio que eu gosto muito: Capitania, que é um fundo de crédito, SPX Lancer Plus, que é um fundo multimercados e Brasil Capital que é um fundo de bolsa. Nesse trio voce já tem renda fixa, bolsa, moedas, juros no Brasil e no mundo. Essa é uma recomendação do nosso relatório.

Precisa ter quanto dinheiro para começar a investir nesse trio?

Você encontra em diferentes corretoras e bancos, com 500 reais em cada um já dá para começar uma previdência. Mesmo se passar um tempo sem conseguir fazer aportes mensais, não tem problema, seu dinheiro vai continuar rendendo, não é uma dívida. E assim que você puder, você faz mais.

Você acha que o investimento em Previdência serve também para as crianças?

Também. Recomendo que você faça no nome da criança, senão não consegue transferir para ela mais pra frente. Para isso é necessário fazer um CPF para ela. Do ponto de vista de educação financeira é um produto sensacional. Se você coloca dinheiro para a criança quando ela nasceu, mesmo quando ela fizer 5 anos, ao fazer 16 anos ela já pode sacar esse dinheiro, pois está no nome dela. Tem que educar a criança no meio do caminho, assim muitos sonhos podem ser realizados com um dinheiro desses. E você pode deduzir da sua declaração de imposto de renda hoje, pois ela é uma dependente sua.

Aconselha então nossas leitoras para separar um momento para sentar e organizar?

Sim! Sabe o que é muito legal falar? Antes de investir eu passei muito tempo estudando. Muita gente acha que mulher é mais conservadora para investir, mas o que acontece é que as mulheres gostam é de aprender antes. Eu também quis entender muito antes de começar, peguei uma folga no trabalho um dia para isso. Era uma sexta feira e eu tinha horas acumuladas. Sentei e falei: agora eu vou fazer isso. E aí eu abri a conta na corretora, em duas horas eu já tinha resolvido, virei investidora oficialmente. Recomendo que as pessoas façam isso. Vamos aproveitar agora o começo do ano para nos dedicar. As pessoas passam um tempão pesquisando para comprar um celular, mas pegam o primeiro produto de previdência que aparece na frente delas. Monta a reserva de emergência, olha para a Previdência, e a partir daí pode começar a arrojar e investir em ações, criptomoedas.Assim você estará com o curto e o longo prazo resolvidos. 

 

A partir de hoje, dia 03 de janeiro, às 20h, Luciana Seabra vai lançar o evento online “Investindo em 30”, para iniciantes. Ela passa 30 dias com 20 minutos por dia em grupo fechado do Instagram. Para começar do zero e cada um construindo sua planilha. O link está na bio da @seabraluciana. Na primeira semana ensina a construir a reserva de emergência. Estão abertas a inscrição para a semana gratuita.

Aviso às nossas leitoras: este conteúdo é 100% jornalístico, feito pelo We Pick de forma independente, sem parceria comercial, contatando diretamente a assessoria da Luciana Seabra para essa entrevista.

 

 

Comente esse post!

Deixe seu Comentário