Confira entrevista exclusiva com a sobrinha neta de Tarsila do Amaral

14/05/2018 - por We Pick

O nome já lhe rendeu histórias hilárias, como há de quando uma amiga foi chamada na escola da filha para dizer que ela estava com problemas, já que nas aulas de Artes dizia para professores que Tarsila do Amaral frequentava sua casa… E e verdade! Alias, Tarsilinha, como é conhecida pelos amigos, é a homônima, sobrinha neta, herdeira e administradora da obra de uma das maiores artistas do nosso país e do mundo, Tarsila do Amaral.

Em nosso bate papo, falamos sobre a exposição no MoMA em NY, a primeira grande mostra dedicada a tia avó nos Estados Unidos, que ela pretende trazer para São Paulo em 2019. Afinal, afirma que a exposição tem como essência maior mostrar o nosso país: ‘’Minha Tia Avó dizia que queria ser a pintora do Brasil, e ela mostrou isso em suas telas.  ’’.

“Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil” – Reuni trabalhos garimpados em acervos da América Latina e Europa, como o Abaporu, o Antropofagia e A Negra. ‘’Outra obra é A Cuca, ela fica no Museu de Grenoble, na França, e foi vista no Brasil poucas vezes. As crianças adoram este quadro’’ diz Tarsila.

Tarsilinha (já me sinto íntimo) ressalta: ‘’Um país sem cultura não tem futuro. A arte e a cultura sensibilizam as pessoas. Fico feliz que hoje a maioria das crianças estudam Artes nas escolas. Isso certamente vai formar seres humanos melhores”. Ela também acredita que a moda, assim como as telas de Tarsila do Amaral, nos transmitem mensagens: ‘’As pinturas são feitas de tintas e sentimentos e a moda também é uma manifestação de arte’’.

Uma mulher simpática, fina e muito elegante, que além do nome carrega da sua tia avó o amor pelo País e conta brevemente sobre a história da Artista brasileira nascida no interior de São Paulo, em Capivari, no dia 1 de setembro de 1886: Tarsila do Amaral, uma das mais importantes pintoras brasileiras do movimento modernista, desenhista, feminista pioneira, ícone de moda e artista visionária.

O que não pode faltar quando se lembra de Tarsila?

A brasilidade. Aliás, Mário de Andrade que disse que foi Tarsila que ‘inventou’ o termo brasilidade. Ela mostrou o Brasil através das cores, da paisagem, da fauna, da flora e também do povo e seu folclore.

– A exposição  “Tarsila do Amaral: Inventing Modern Art in Brazil”, no MoMa em NY, foi um ponto importante e de destaque da memória e obra da artista brasileira, como foi o movimento e a idealização desse projeto?

Fui no ARTIC, The Art Institute of Chicago, (segundo maior Museu americano) , pois uma obra que pertenceu à coleção da minha Tia avó, está no museu. Eu já pensava em uma exposição dela nos EUA, então marquei uma reunião com a curadora Stephanie D’Alessandro.  Ela foi muito gentil e disse que achava interessante fazer uma exposição de Tarsila lá. Mantivemos contato, três anos depois ela me ligou para dizer que finalmente eles iriam fazer a exposição e que depois iria para o MoMA. Depois disso, foi muito trabalho!

A vida e obra de Tarsila são fascinantes. Qual obra que te trás maior ligação sentimental e afetiva do legado de sua tia-avó?

Acredito que sou a maior fã de Tarsila, ou uma das maiores. Para mim é difícil escolher só uma obra. Mas vou destacar A Negra, pois meu pai tinha uma releitura que ela fez desta obra e ficava na entrada de casa. Eu passei grande parte da minha vida vendo esta obra.

Em 2017 a Osklen fez uma coleção com estampas de Tarsila, como a senhora enxerga o movimento de intersecção entre a história da arte e o movimento artístico jovem moderno, através da moda por exemplo.

Tarsila foi um ícone de moda. Ela se vestia com Jean Patou e Paul Poiret, os maiores costureiros de Paris nos anos 20. Ela se vestia muito bem e tinha um visual impressionate. Além da sua beleza e das roupas, ela tinha uma presença marcante. Quando pensei em levar Tarsila para a moda, pensei na Osklen, por causa da brasilidade. Acho que levar Tarsila para a moda, com o respeito pela artista que a Osklen teve (além do bom gosto deles, claro), aproxima o publico da pintora e, de consegue também levar a arte para o publico mais jovem.

Você usou uma pulseira que foi da sua tia, qual outros objetos com memorias a senhora tem de Tarsila? Além dos clássicas obras, desenhos…

Tenho um anel de brilhantes que ela usou desde os 18 anos. Quando ela foi para o hospital, pediu que Dona Anete, que cuidava dela, retirasse o anel e desse de presente para mim se ela morresse. Infelizmente ela morreu. Isso acabou de fazer 45 anos.

Qual a principal lição que a memória da Tarsila nos deixa?

Ela teve uma vida linda, mas com muitas perdas. Perdeu a irmã em 1910, os irmãos queridos Oswaldo e Milton, meu avô, a única filha e a única neta, antes dela falecer. O pai, que era milionário quase faliu com a crise do café em 1929. Além da traição dos maridos. Mas a atitude dela em relação à vida era um exemplo para todos, ela nunca se queixou de nada e dizia que amava a vida e queria viver até os 100 anos. Chegou perto, morreu com 86 anos.

Tarsila do Amaral foi uma modernista que quebrou paradigmas para a época. Na sua visão, quais as principais atitudes da artista fizeram ela ser uma pioneira do feminismo no Brasil?

Ela se separou do primeiro marido em 1913, o que foi um escândalo na época. Depois foi estudar arte, o que também era mal visto na sociedade. Em 1920 foi estudar arte em Paris e morar sozinha lá. Depois casou-se com Oswald de Andrade, que era um playboy mulherengo e muito mal visto pela sociedade. E ainda em 1933 começou um relacionamento com o escritor Luis Martins, que era 21 anos mais novo que ela. Tenho que destacar a figura do pai dela, que era republicano e abolicionista, e que tinha uma mente mais aberta, e que sempre deu força para Tarsila. Sem o apoio dele, nós não teríamos a nossa grande artista. Tarsila foi uma mulher forte, com muita personalidade para suportar a pressão e rejeição da sociedade e da própria família.

Matéria por Pedro Buzzatto – @pedrobuzzatto

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