Tenda Tripa: desfile da Misci homenageia o interior do Brasil

24/04/2024 - por Izabella Toledo (@izabellatmelo)

Grife de Airon Martin apresentou a nova coleção em um desfile que fortaleceu sua identidade e revelou toda sua maturidade e segurança

Foto: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Se as icônicas rampas do Pavilhão da Bienal de São Paulo materializam o talento de Oscar Niemeyer, na última terça-feira (23), um novo artista deixou sua marca no cenário: Airon Martin, diretor criativo da Misci, apresentou sua nova coleção, “Tenda Tripa”, para uma plateia com nomes de peso. 

A etiqueta brasileira tornou-se, nos últimos anos, uma das mais amadas por fashionistas e celebridades, e a fila A era um reflexo do fenômeno da marca. Referências fashion, como Glória Kalil, reuniram-se com personalidades da internet — ligadas, ou não, ao nicho —, como Gabb, Malu Borges, Gkay e Carlinhos Maia. A alguns passos da família de Airon (para identificar sua avó, era só encontrar a mulher mais orgulhosa do dia, observando tudo com admiração), estavam Emicida e João Guilherme, marcando o ritmo da música com os pés. 

A trilha sonora, aliás, foi inusitada. Conhecida por receber os clientes nas lojas com sons do norte e nordeste, a Misci escolheu envolver os convidados do desfile com o funk paulista, reforçando sua missão de reunir, no universo da marca, os vários “Brasis”. 

Enquanto a música rolava, a arte acontecia. Dessa vez, Airon escolheu homenagear o interior do país e apresentou símbolos de regiões afastadas dos grandes centros urbanos. A coleção mergulhou nas tripas do Brasil (daí o nome que a batiza) e apresentou uma narrativa nova para quem vive na bolha São Paulo-Rio-Trancoso. 

A coleção

É impossível falar do interior sem resgatar elementos da natureza, e a manhã quente em que a coleção foi apresentada combinou com o clima dos looks: a paleta de cores lembra um dia ensolarado na fazenda. O azul do céu, o verde das plantas e o marrom e laranja da terra levavam o público às pequenas cidades do Brasil — e, por que não, à Sinop de Airon Martin? 

A visita ao interior continuou com as referências equestres. Enquanto saias lembravam selas de montaria, tiras e cintos por todo o corpo reproduziam os equipamentos usados para montar cavalos. Nossa própria versão da moda cowboy. 

Fotos: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Os elementos de cavalaria também apareceram nas joias cocriadas por Carlos Penna, um antigo conhecido da grife e de seus clientes, responsável por peças icônicas de temporadas passadas, como o brinco volante de “Jerimum”, que resgatava a estética automobilística dos anos 70 e 90.  

Dessa vez, o acessório que deve ser sensação é o brinco que reproduz o rabo de um cavalo. 

Foto: reprodução/@carlospenna.design

Na nova coleção, elementos já conhecidos pelos admiradores da marca estiveram presentes: recortes estratégicos, silhuetas assimétricas e uma alfaiataria nada óbvia já são familiares e dão sequência ao que a Misci apresentou no passado. 

Fotos: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Os tecidos de algodão e acetinados também não são novidade, e, entre texturas e materiais, o destaque vai para as experimentações de Airon. Reforçando a parceria com a Nova Kaeru, empresa de materiais naturais, o designer trabalhou com uma nova versão do biocouro à base de plantas — o beLEAF, obtido a partir do curtimento das folhas da planta orelha-de-elefante. 

Foto: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Também, se destacaram as peças de látex, produzidas a partir de uma fonte biorenovável da borracha natural da seringueira. O material foi produzido em parceria com quatro cooperativas de seringueiros da Amazônia e do Centro-Oeste, que materializam o resultado das pesquisas de materiais da Misci. 

Fotos: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Parcerias, inclusive, fazem parte da estratégia central de Airon Martin. Defensor da construção de uma indústria nacional forte, Martin sabe que não se muda um mercado todo sozinho — é preciso crescer em conjunto.  

Por isso, o diretor criativo convidou uma amiga com quem tem uma conexão de alma, como ele mesmo define: Lenny Niemeyer. A empresária trouxe, para a Misci, sua autoridade no mercado de beachwear e cocriou uma linha de vestuário e acessórios que une elementos de ambas as marcas.  

Algumas peças da união MisciLenny foram desenvolvidas a partir da palha de buriti, feita por uma comunidade de artesãs do Maranhão. 

Fotos: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

Mais uma parceria central para o desenvolvimento da coleção foi com o artista Jaime Lauriano, que assinou a tipografia do desfile e bordou, em duas peças, o mapa do Brasil-TendaTripa. 

Fotos: à esquerda cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi. À direita, reprodução/@jaimelauriano

E se experimentação é o que move a Misci e seu criador, idealizar roupas em parceria com uma papelaria não é uma ideia absurda. A collab com a Papelaria Escritório de Design deu o que falar — especialmente, porque a influenciadora Malu Borges escolheu usar uma das peças em sua produção para o desfile. A união resultou em regatas e acessórios de papel criados com perfeição, simbolizando as inúmeras possibilidades alternativas ao couro na produção de bolsas. 

Fotos: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

No ritmo do funk “tuin”, os modelos andavam pela passarela com os itens da parceria com a Botti, marca paulistana de calçados artesanais de couro. Os sapatos acompanham as tradicionais ferragens da Misci e incorporam não só os materiais da nova coleção, mas também outros que fazem parte da história da etiqueta de Airon, como o couro de pele de pirarucu. 

Foto: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

  Ao mesmo tempo em que a grife de Airon Martin volta seu olhar para o que conhece — o Brasil e seu povo —, ela pesquisa o novo e experimenta sem medo. Por isso, o desfile Tenda Tripa é um marco para a moda nacional; por meio dele, a etiqueta mostra, na prática, a potência da nossa indústria e prova a capacidade de inovação que acontece quando as marcas se unem. 

Para encerrar o desfile — que ninguém queria que terminasse —, uma convidada tão icônica quanto a coleção surpreendeu os convidados. Ivete Sangalo esbanjou simpatia na passarela e concedeu a todos a licença de anunciar: esse foi o desfile mais brasileiro dos últimos tempos! 

Foto: cortesia de Zé Takahashi/@ze_takahashi

1 comentários

  1. Jefferson disse:

    Que isso!!! Que matéria é essa…!!! Parabéns à autora… impressionante o conteúdo e conhecimento do assunto…

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