Desfiles de noite em Paris são puro brilho e a passarela de Saint Laurent escolheu a hora certa. Nos looks, na beleza, nos acessórios, tudo cintilava. A fonte de inspiração, claro, uma fashionista: Paloma Picasso, filha do famoso pintor. Na década de 70 ela circulava entre as festas mais badaladas, os personagens artsy, os hot spots. Muito do imaginário que temos da marca, super marcada, noturna, poderosa, vem desta época.

Quando em 1975 o fotógrafo Helmut Newton clicou uma modelo com o famoso smoking de Yves Saint Laurent com uma aparência bem andrógina, algo na moda mudou. A imagem trouxe uma feminilidade andrógina, uma geometria e seriedade moderna nos looks que inspiraram uma atitude impetuosa das mulheres, prontas para dominar o mercado de trabalho – e os homens. Elas queriam moda, queriam luxo, queriam comprar. E assim foi criado o Power Dressing. Roupa do Poder. E foi esse poder que apareceu na passarela de verão de Saint Laurent, em Paris.

Um poder que nos lembra a beleza geométrica de Grace Jones, um poder que pede roupas justas, estruturadas, acessórios, decotes abusados e um semblante pouco amigável. Os brincos e colares dando um forte recado. Poderiam ser as andróides do filme “Blade Runner”. Nos lembra também uma frase de outro filme, “Secretárias do Futuro”, em que a protagonista diz, para seu namorado: “tenho a cabeça para os negócios e o corpo para o pecado, tudo bem pra você?”.

Essa mulher vem com ombros retos e longos, cores fortes e contrastadas. Muito preto. Vermelho, luvas de couro. Ultrassexy. Passa longe da delicadeza. Mas em alguns momentos as mulheres podem querer protagonizar isso, e deixar a mocinha de lado.

O estilista Anthony Vacarello foi aquele que veio na contramão da vontade de conforto nos últimos anos, antes mesmo da pandemia. Quando se falava em uma moda mais acolhedora, ele trouxe looks justos, rígidos. Desta vez a proposta parece fazer bem mais sentido: trocar o conforto por mais produção. Com óculos escuros que, ironicamente, combinam com uma noite fashion.