Miuccia Prada e o sucesso de Prada e Miu Miu

05/05/2024 - por Izabella Toledo (@izabellatmelo)

Conheça mais sobre a diretora criativa das grifes que lideram o ranking das marcas mais quentes entre os fashionistas

São poucas as etiquetas que podem se gabar de serem negócios seculares. Menor ainda é a quantidade das que se mantêm relevantes após 100 anos. A casa que hoje é comandada por Miuccia Prada abriu suas portas em 1913, em uma loja na Galleria Vittorio Emanuele II, em Milão. 

Se, no início, o fundador Mario Prada lançou-se no mercado de bolsas, baús e acessórios de viagem, foi graças à força criativa de sua neta que a Prada alçou voos mais altos e se consagrou como uma das marcas mais desejadas do mundo. 

E como sucesso pouco é bobagem, tem também a Miu Miu. Bem mais jovem do que sua irmã mais nova, a etiqueta foi criada do zero por Miuccia e, em suas mãos, alterna com a primogênita o topo do ranking de marcas mais desejadas do mercado. 

Conheça mais sobre a trajetória da estilista que é, hoje, uma das mulheres mais poderosas do mundo. 

O início de tudo

Apesar de ter se tornado um império nas mãos de Miuccia, a casa nem sempre foi um lugar para as mulheres da família Prada. Mario não acreditava que elas conseguiriam gerir os negócios, até que, ao se aposentar, se viu obrigado a ceder e deixar que Luisa tomasse a frente — a única dos filhos a se interessar pelo cargo. 

Reprodução/Prada

Duas décadas mais tarde, foi a vez de Maria Bianchi — ou, como você conhece, Miuccia Prada — assumir. Doutora em Ciência Política, ingressou na marca da família como designer de acessórios em meados da década de 70. 

E se a criatividade de Miuccia era um ingrediente perfeito, a receita ficou completa quando a italiana conheceu Patrizio Bertelli, com quem é casada até hoje. Com a parceria, a designer pôde se concentrar em criar sua arte, enquanto o marido passou a gerir o negócio sob uma perspectiva mercadológica. 

Reprodução/Prada

Sem medo de ousar

Em 1979, a empresa passou a expandir seu portfólio de produtos com a primeira coleção de sapatos femininos, mas foi em 1985 que a grande virada aconteceu. Em uma coleção inovadora de bolsas, a italiana substituiu o couro pelo nylon — o tradicional deu espaço para o revolucionário. 

Três anos mais tarde, em 1988, a casa ganhou peças para o look completo e estreou, em Milão, sua primeira coleção de vestimentas. Entre os 53 looks apresentados, destacavam-se os elementos emprestados do guarda-roupa masculino: camisas e calças de alfaiataria que lembravam uniformes militares.  

Reprodução/Prada

Mesmo nos visuais mais femininos, como os vestidos de saias amplas cor-de-rosa, o conforto estava presente; nos pés, as modelos caminhavam com saltos baixos e funcionais. Em sua estreia, Miuccia já deixou claro que desenha para mulheres que, assim como ela, têm mais com o que se preocupar além da beleza a todo custo. 

Ugly chic

Beleza, aliás, é um termo que a designer deturpou. Como revelou em uma entrevista ao The Cut, é contra tudo o que faz as pessoas acharem a mulher bonita: “Sou contra isso, em princípio, do ponto de vista pessoal e humano. A outra razão pela qual sou contra é porque é banal. Eu quero ser mais inteligente, ou mais difícil, ou mais complicada, ou mais interessante, ou mais nova”. Para ela, a parte divertida do trabalho é encontrar o conceito — o que explica a complexidade de suas criações, nunca esvaziadas de sentido. 

Não à toa, Miuccia foi uma das precursoras do “ugly chic”, movimento que rejeita os padrões tradicionais do que é belo, apresenta imperfeições e arrisca com formas, cores, estampas e texturas. A expressão foi cunhada, pela primeira vez, após a apresentação do verão de 1996 da Prada, em uma coleção com paleta desconexa, silhuetas que não valorizavam o corpo feminino e, mais uma vez, sapatos baixos. 

Reprodução/Prada

Nasce Miu Miu

Apesar das mudanças que realizou sobre a Prada, Miuccia precisava de uma filha para chamar de sua. Foi assim que, em 1993, fundou a Miu Miu — a irmã descolada, livre e provocadora. 

Na etiqueta, mudança e experimentação são elementos-chave, e o “kitsch” (maximalista, excêntrico) é o básico. Na grife, Miuccia parece testar os limites do público e, sem medo, força um pouco mais a cada estação.  

Na primavera de 2022, Miuccia diminuiu, significativamente, o comprimento das saias e estourou entre as fashionistas com o supermini. No outono seguinte, foi além e tirou as calças das modelos. A “no pants trend”, até aquele momento, absolutamente caricata, tornou-se um hit e, agora, não é improvável ver grandes referências fashion saírem de casa sem calças. 

Reprodução/Vogue Runway

Modelos com óculos de grau, pés no chão e cabelos despenteados representam a garota-Miu Miu, que não se preocupa em ser sexy ou romântica. Mais uma vez, a feminilidade implementada por Miuccia vai além do visual; é sobre ser ousada e despreocupada. 

O legado

Em 2018, Miuccia conquistou o “Outstanding Achievement Award”, prêmio apresentado pelo Conselho de Moda Britânico (British Fashion Council) que reconhece seu pioneirismo, originalidade e influência na moda. 

No entanto, apesar de sua capacidade de criar um sucesso atrás do outro, aos poucos, Miuccia abre mão do controle total sobre suas etiquetas. Em 2020, a diretora criativa passou a dividir espaço na Prada com Raf Simons. No cargo de codiretor de criação, o estilista belga imprime sua identidade na etiqueta, que carrega o título de queridinha das fashionistas intelectuais. 

Em meio a grifes que buscam, a todo o tempo, reviver hits do passado, Prada e Miu Miu se destacam por experimentar o novo. Miuccia cria para quem, assim como ela, é cerebral — mas gosta de se vestir bem. 

Se, em certo momento, a italiana que evitava a moda declarou que este era o pior lugar para uma feminista nos anos 60, ela encontrou, em suas criações, um espaço para seguir questionando papéis de gênero, questões políticas e sociais e se tornou um dos nomes mais respeitados da indústria que, ainda hoje, é dominada por homens que pensam como seu avô. 

Comente esse post!

Deixe seu Comentário