Estilistas brasileiros para ficar de olho

21/02/2024 - por Izabella Toledo (@izabellatmelo)

Design com olhar social, ambiental e regional — tudo isso sem perder de vista a estética. Conheça os nomes que têm transformado o mercado de moda brasileiro

Criar uma etiqueta parece uma tarefa fácil. Prosperar no mercado, nem tanto. Estabelecer seu nome como um dos principais impulsionadores da cultura brasileira é conquista de poucos. Alguns designers têm trabalhado para trazer mais propósito à indústria da moda e resgatar valores que são perdidos com a cultura do fast-fashion.

Em tempos de banalização das réplicas (ou, como a internet gosta de chamar, os “dupes”), surgimento de incontáveis microtendências a cada semana e ascensão das plataformas chinesas de compras (você sabe as quais nos referimos), criar lentamente e vender em pouca quantidade é um ato que exige coragem. Por exemplo, sabia que o estilista Mateus Cardoso só atende cerca de oito clientes por mês?

Apresentamos, abaixo, alguns designers que encaram a moda por uma perspectiva mais sustentável e, justamente por se basearem em pilares bem-definidos, têm ganhado os holofotes.

Airon Martin, Misci

Foto: reprodução/Instagram @aironmartin

Fundador e diretor criativo de uma das marcas queridinhas da atualidade, Airon foi criado por mulheres: sua mãe e sua avó. Sua infância é fonte de inspiração para as criações da Misci, que retratam o Brasil raiz e reúnem referências que são familiares para quem conhece, de perto, a realidade fora dos grandes polos.

Airon também enaltece a América Latina como um todo e resgata valores locais que são ignorados por quem, em uma tentativa de se aproximar da moda, acaba só gostando de roupa.

A etiqueta, que surgiu como um projeto de conclusão de curso de Airon, durante a graduação, não para de crescer e já ocupa três endereços na capital paulista, além de colecionar seguidores (e compradores) fiéis nas redes. Com projeção nacional e internacional, o diretor criativo da Misci usa sua voz e sua posição para expor as dificuldades do industrial no Brasil e para defender o uso de matéria-prima nacional nas criações.

Mateus Cardoso

Foto: reprodução/Elle Brasil

Depois de uma estreia-destaque na última edição da São Paulo Fashion Week (SPFW N56), Mateus Cardoso deve brilhar cada vez mais. O jovem alfaiate reinventa a técnica tradicional, repensando camisas, calças e tudo o que é típico do ofício.

O estilista mineiro aprendeu as bases da alfaiataria na prática, colocando a mão na massa e sendo guiado por um mentor que topou ensiná-lo. Desde o início, suas criações são vendidas exclusivamente sob encomenda, e seu processo de desenvolvimento é vagaroso, sem preocupação em acompanhar o ritmo de produção desenfreado dos tempos atuais.

O designer já declarou que não pretende participar da próxima semana de moda paulista, em abril, nem lançar novos produtos, por enquanto. No momento, ele trabalha para estabelecer sua identidade e atender, com atenção, os clientes que o procuram.

 

Marina Bitu

Foto: reprodução/Instagram @ataldabitu

Quem também reinventa técnicas tradicionais é a cearense Marina Bitu. Em sua marca homônima, a designer trabalha o artesanato de forma atual e utiliza materiais orgânicos para criar texturas únicas e silhuetas leves. Plissados e transparência também fazem parte da identidade da label, que preza por um trabalho manual de qualidade.

A grife traz frescor a fuxicos, crochês e bordados, dando origem a peças versáteis e modernas, mas que resgatam elementos regionais. As criações são desenvolvidas por pequenos produtores conterrâneos de Marina, seguindo um dos pilares da etiqueta, que é fomentar o desenvolvimento socioeconômico e cultural de Fortaleza.

 

Gustavo Silvestre, Ponto Firme

Foto: reprodução/Instagram @silvestregustavo

Não é de hoje que Gustavo Silvestre é um nome que se destaca no mercado nacional. O estilista estabeleceu bases sólidas na indústria fashion e, depois de um tempo, passou a buscar caminhos mais sustentáveis para o que fazia.

O pernambucano encontrou no crochê um resgate a lembranças de sua infância e uma ferramenta de transformação social. Em 2015, aceitou um convite para ensinar a técnica dentro de uma penitenciária masculina, e, assim, surgiu o projeto Ponto Firme.

A iniciativa conquistou espaço nas semanas de moda de São Paulo e Paris, ganhou documentário (“O Ponto Firme”, de Laura Artigas), firmou parcerias com marcas prestigiadas, como NK Store e Rider, compõe a decoração de lojas internacionais da carioca Farm e domina o closet das fashionistas.

No início do verão, algumas das maiores personalidades da moda brasileira, como Silvia Braz, Lívia Nunes e Camila Coutinho, elegeram peças da colaboração entre Silvestre e Kevin Germanier para as festas de fim de ano. E, já que tudo o que as queridinhas da moda usam vira hit, o designer fortaleceu seu nome no radar de quem acompanha as tendências.

 

Hisan Silva e Pedro Batalha, Dendezeiro

Foto: reprodução

Fundadores da aclamada Dendezeiro, Hisan Silva e Pedro Batalha entendem a marca como um estilo de vida. Para os baianos, “diversidade, pluralidade, inclusão, representatividade e possibilidades” são pilares básicos que se refletem nas produções e apresentações da Dendezeiro.

Apesar do sucesso na SPFW e dos planos de internacionalização da label, os estilistas ainda mantêm raízes em Salvador, como forma de fortalecimento da cultura nordestina. No entanto, ao contrário do que muitos imaginam, os clichês associados à região, como estampas e cores, não estão presentes nas criações, que são neutras e mais pesadas.

Para construir peças que mesclam técnicas de alfaiataria e o street style, os estilistas buscam inspiração em aspectos mais profundos da capital baiana, como a questão da resistência e a diversidade de corpos e racial.

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