Um papo com Daniela Dantas, vice-presidente da WGSN

10/03/2022 - por Malu Pinheiro

Como se constrói uma trajetória profissional de sucesso? A resposta (de milhões) muitas vezes passa por muito mais erros, incertezas e mudanças de rotas do que os profissionais pensam – e em muitos casos é um redirecionamento de carreira que solidifica uma trajetória de sucesso.

E é essa uma parte da trajetória de Daniela Dantas, vice-presidente da WGSN, que conversou com o We Pick sobre como construir uma trajetória profissional – e a importância de traçar novos caminhos.

Para começar, conta pra gente um pouco sobre você?

Eu sou Daniela Dantas, vice-presidente da WGSN da América Latina, maior empresa em pesquisa de tendências no mundo. Nosso trabalho é super conhecido na moda, mas também atuamos em vários outros segmentos como tecnologia, alimentos e bebidas, design de interiores, comportamento – trazendo muita tendência de comportamento. Trabalho na WGSN há 12 anos, onde passei por muitas áreas até chegar na área comercial, onde estou há seis. Também já fui empreendedora – tive uma marca de moda-praia no passado – e em 2021 iniciei um projeto pessoal, um produto guiado pelas necessidades da pandemia, a Hello Less.

E, antes mesmo de entrar para a WGSN já estava de olho na empresa, era como um sonho. Fiquei encantada pelo universo de pesquisa de tendências, tudo que é novo está acontecendo aqui. Acredito que minha experiência com o empreendedorismo tenha me ajudado muito a olhar para o futuro nesse sentido. O espírito empreendedor te faz olhar e fazer um pouco de tudo, se virar, né? E isso é importante na área comercial e na consultoria.

Quando você percebeu que teria a oportunidade de virar a chave e migrar, passando por consultoria e chegando em tendências?
Na verdade, eu sempre soube que gostava de gente. Gosto de pessoas, gosto de aprender um pouco de tudo e sou curiosa. Isso me faz perguntar e querer saber das coisas e dos movimentos – um olhar até investigativo.

Ao meu ver, o marketing tem várias vertentes. Como eventos, por exemplo, e essa função não é para mim. Na época, eu entendi que não era uma área legal para mim, não tenho perfil, não sinto toda aquela adrenalina. Pelo contrário, sempre fui apaixonada pela proposta da pesquisa em torno de tendências. Em marketing, eu gostava de entender qual era o desafio e as oportunidades de cada cliente, qual era a tendência que se adequava a ele e assim comecei a fazer pontes entre marcas e pessoas. Em seguida, surgiu a oportunidade de migrar para consultoria.

Eu gostei de imediato porque é um trabalho mais livre e personalizado, baseado em cada cliente. O caminho foi natural, ao procurar entender os movimentos possíveis no mercado, fui me interessando pela área de tendência. Hoje, são 900 marcas na América Latina que assinam os suportes da WGSN. Tenho projetos como ‘Qual a tendência específica para a mulher brasileira que frequenta o bairro X’, por exemplo.

Você comentou que o seu olhar para o empreendedorismo ajudou a construir sua carreira no mundo corporativo, certo? Como você vê o empreendedorismo e o marketing, eles andam juntos?
Acredito que ter espírito empreendedor é um comportamento que te ajuda a caminhar com qualquer outra coisa. Então com toda certeza me ajudou. Quando falo nesse espírito é porque quando você empreende, você pensa em produto, desenvolve o produto, conversa com o cliente, entrega para o consumidor final, alinha o financeiro com o contador. Naturalmente você vai aprendendo e somando várias funções. Em resumo, o empreendedorismo me trouxe até aqui, me deu base para transitar entre áreas e clientes.

E voltando um pouco para o hoje, qual é a importância do estudo de tendências e comportamento dos consumidores para uma marca?
Trabalhar com tendência chega a ser engraçado. Quando usamos essa palavra, a primeira coisa que pensamos é relacioná-la à moda. Mas, o que a semântica da palavra quer dizer? É uma referência a algo que está em ascensão ou algo que está mudando. Então quando você começa a entender a dinâmica do mercado como um todo, e que independente de qualquer coisa, nós estamos lidando com pessoas, você percebe que precisa dar atenção ao que os grupos estão pensando. Entender contextos e motivações faz com que uma empresa se adeque às demandas que o mercado está mostrando. Ou seja, ao meu ver, a importância de se atentar às tendências é que só assim você continua relevante.

Por isso, nosso trabalho é mapear e acompanhar mudanças de comportamento em todo o mundo que possam impactar o consumo de alguma maneira.

Você acredita que estar por dentro desse universo e ter a capacidade de entender comportamentos futuros agrega também a alguma forma seu dia a dia como pessoa física?
Eu vejo como um privilégio trabalhar nessa área. Sempre brinco que trabalhar com tendência deixa você mais interessante e interessado. Basicamente, o trabalho do pesquisador de tendências é entender quais as necessidades e quais são os possíveis contextos e, assim, começar a unir antes que o movimento se torne comum. Ou seja, colocar a marca como pioneira em certas mudanças, como elaborar um produto que responda a um déficit notado no mercado, porque sabemos que em um período curto de tempo isso terá um impacto grande por ser uma possível tendência.

E, como profissional, do início da sua trajetória até aqui, como você enxerga a representatividade feminina no setor?
Bom, eu fui contratada como mulher e tive outras lideranças femininas ao longo desses anos. Nosso escritório na América Latina sempre teve mais mulheres – e eu sou uma entusiasta da liderança feminina porque uma vez que uma de nós está na mesa, outras veem juntas. Vejo como parte da nossa obrigação. No meu time, por exemplo, todas as líderes são mulheres. E, ao meu ver, há representatividade nesse mercado. Um mercado muito pulverizado porque você trabalha com diversos profissionais das mais diferentes áreas. Então, vejo um saldo positivo nesse sentido, mas a representatividade sempre pode ser maior e acontecer de forma mais plural.

Para encerrar, como você concilia o profissional com o lado pessoal e a maternidade?
Eu trabalho com tendências, né? (risos) Tenho o privilégio de poder entender o comportamento e as necessidades antes mesmo de estarem necessariamente acontecendo. Mas, primeiramente, eu vejo que a WGSN cria esse espaço de ‘empresa humana’, sabe? E esse é também o meu estilo de liderança. Hoje falo de uma posição de líder, mas a empresa sempre me abraçou. Posso dizer também que me encontrei na maternidade, apesar de que não era o meu sonho ser mãe, mas quando eu decidi, passei a desejar encaixá-lo na rotina de uma forma muito equilibrada e a WGSN tem essa visão do time como pessoas físicas e não só jurídicas. Inclusive, não estaria aqui se não fosse assim. Eu levanto essa bandeira desde o início. Tudo precisa coexistir de uma maneira equilibrada, aí a fórmula para isso é de cada um!

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