Como a Copenhagen Fashion Week colocou a Dinamarca no circuito da moda

28/01/2024 - por Izabella Toledo (@izabellatmelo)

A semana de moda na capital dinamarquesa teve início em 2006 e, desde 2018, discute a importância de uma moda mais sustentável e diversa

Foto: Vogue/Reprodução

Há pouco mais de uma década, pareceria estranho pensar que a moda escandinava pudesse se destacar. Entre uma população que tem a sustentabilidade como um dos grandes pilares, as roupas precisam ser práticas, para o deslocamento de bicicleta, e atemporais, para um guarda-roupas que não precise ser renovado a cada estação.

Embora diversas marcas, como Baum Und Pferdgarten, Saks Potts, Cecilie Bahnsen e Ganni, colaborem para colocar o Scandi-style na rota fashion, a Semana de Moda de Copenhagen (CPFW) é a grande responsável por voltar os holofotes para o estilo regional.

O encontro na capital da Dinamarca começou em 2006, no ano seguinte ao surgimento da Semana de Moda de Estocolmo. Enquanto sua irmã mais velha se dedicava a uma moda mais séria e minimalista, a CPFW chamava a atenção por um estilo mais eufórico.

Apesar das quase duas décadas de existência, foi apenas em 2018 que essa semana de moda passou a assumir a forma que hoje se conhece. Com o posicionamento de Cecilie Thorsmark como CEO do evento, as marcas passaram a ter que cumprir rigorosos padrões, especialmente, relacionados às preocupações com o meio ambiente.

Atraindo cada vez mais atenção, te contamos abaixo os motivos que fazem esse encontro bienal se destacar de todas as outras fashion weeks:

Comprometimento

Empenhada em se tornar referência em sustentabilidade, a CPFW é um reflexo da população local. Nos países nórdicos em geral, a população é encorajada, desde cedo, a passar tempo ao ar livre e a respeitar os recursos naturais. Assim, a mentalidade sustentável é espontânea para quem já está inserido naquela cultura, e isso inclui todos os aspectos sociais, inclusive, a moda.

Em 2020, o primeiro plano de ação de sustentabilidade da Semana de Moda de Copenhagen foi apresentado, com o objetivo de reduzir os impactos negativos da indústria, inovar o modelo de negócio e acelerar a mudança. Em 2022, um segundo plano se comprometeu em continuar o projeto e manter seus pilares: educar, reduzir e acelerar.

Nesse plano de ação, foram estabelecidos 18 padrões mínimos, de sustentabilidade e outras práticas, que todas as marcas do calendário de desfiles devem cumprir em seis áreas, que cobrem desde a confecção das peças até a venda final para o consumidor. São eles:

Direções estratégicas

  • Incorporar sustentabilidade e padrões internacionais de direitos humanos;
  • Incluir diversidade e igualdade no modelo de gestão, considerando esses aspectos durante a contratação de colaboradores, especialmente, para cargos gerenciais;
  • Não destruir roupas não vendidas de coleções anteriores.

Design

  • Projetar peças que aumentem a qualidade e o valor dos produtos econômica e materialmente, informando os clientes sobre o valor da longevidade;
  • Encontrar uma segunda vida para amostras.

Escolhas inteligentes de materiais

  • Pelo menos 50% da coleção deve ser certificada, feita de materiais preferenciais ou materiais sustentáveis de nova geração, reutilizada, reciclada ou feita de estoque antigo;
  • Possuir uma lista de materiais preferenciais em vigor;
  • Possuir uma lista de substâncias restritas em vigor, seguindo os requisitos da Diretiva EU REACH, e manter contato com os fornecedores para garantir conformidade;
  • Produzir coleções livres de peles.

Condições de trabalho

  • Comprometer-se em exercer due diligence na cadeia de suprimentos de acordo com diretrizes e padrões internacionais, trabalhando com os fornecedores para garantir, por exemplo, emprego livremente escolhido, emprego seguro e ausência de trabalho infantil;
  • Comprometer-se a operar um ambiente de trabalho seguro, saudável e respeitoso para todos os funcionários, livre de assédio e discriminação, onde todos desfrutam de oportunidades iguais, independentemente de gênero, etnia, idade, orientação política/religiosa/sexual, aparência física e habilidades.

Engajamento com o consumidor

  • Ter uma equipe de atendimento ao cliente, tanto em lojas físicas quanto online, bem-informada sobre a estratégia de sustentabilidade;
  • Educar e informar os clientes sobre as práticas sustentáveis em diversas plataformas;
  • Não utilizar embalagens plásticas de uso único em lojas ou para pedidos online, oferecendo alternativas recicláveis, recicladas ou reaproveitáveis.

Desfiles

  • Produzir cenários e desfiles zero waste (sem resíduos);
  • Nos bastidores, durante a semana de moda, não utilizar embalagens plásticas de uso único, oferecendo alternativas recicláveis, recicladas ou reaproveitáveis;
  • Compensar ou neutralizar a pegada de carbono do desfile;
  • Ser signatário da Carta Ética da Moda Dinamarquesa, considerando diversidade e inclusão ao escolher modelos.

Foto: @cpfw/Reprodução Instagram

Em um lugar onde novas marcas têm encontrado lugar para nascer e prosperar, a ideia é que as próximas gerações de criadores do país cumpram, desde a origem, práticas saudáveis para o meio ambiente e para a sociedade.

Com um projeto de transparência, a CPFW reporta, anualmente, seus esforços, apresenta os desafios e propõe soluções para enfrentá-los, abrindo espaço para o público construir, em conjunto, novos caminhos para o futuro.

Espera-se também que, com o tempo, cada vez mais semanas de moda e conselhos sigam exigências semelhantes para que possam, de fato, transformar a indústria.

O estilo dinamarquês

Em Copenhagen, o principal meio de transporte utilizado pelos locais é a bicicleta, por isso, roupas confortáveis são populares — e não estamos falando sobre vestes próprias para exercícios físicos. O dinamarquês busca praticidade em roupas que sejam adequadas para trabalhar, sair para jantar ou se divertir com os amigos.

Essa combinação entre funcionalidade e rigor dá aos designers a oportunidade ideal para usarem a criatividade e produzirem peças autênticas, diferente do que é feito em outros lugares do mundo. Se as outras grandes cidades da moda estão carregadas de expectativas e estereótipos (de Paris, espera-se seriedade; de Milão, glamour; de Londres, que seja descolada; e de Nova Iorque, elegância), a jovialidade de Copenhagen deixa seus criadores livres para construírem uma identidade própria.

Além disso, a Dinamarca é um país feliz — o segundo no ranking, segundo o World Happiness Report de 2023 — e isso se reflete na moda produzida. Em um local repleto de felicidade, a criatividade floresce e estampas divertidas e cores vibrantes traduzem os sentimentos eufóricos de quem as vestem.

Com tantos looks divertidos e experimentais, Copenhagen merece atenção quando se fala sobre o surgimento de tendências. A cidade tem, cada vez mais, pedalado para o centro da indústria da moda, levando frescor e novidade para esse universo.

Foto: Acielle/Style Du Monde. Reprodução/Vogue

O calendário de desfiles da temporada de Outono/Inverno 2024

Programada para acontecer entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro, esse ano, a CPFW não conta com a presença da Ganni, uma das marcas queridinhas de quem acompanha a moda dinamarquesa.

Em um anúncio que surpreendeu, a etiqueta que geralmente encerra a semana redirecionou seus esforços para uma parceria com a incubadora de talentos do evento, a NewTalent. Inclusive, quem abre a temporada esse ano é Nicklas Skovgaard, impulsionado pela iniciativa.

Sem sua atração principal, outros favoritos escandinavos prometem atrair o público, como Rotate, Stine Goya, Marimekko e Helmstedt. Confira abaixo a programação completa de desfiles*:

* Horário de Brasília

29 de janeiro (segunda-feira)

11h — Nicklas Skovgaard

12h — Alectra Rothschild/Masculina

13h — Forza Collective

14h — Won Hundred

15h — Saks Potts

 

30 de janeiro (terça-feira)

7h — Rolf Ekroth

8h — Aeron

9h — Stamm

11h — Lovechild 1979

12h — Vain

13h — Remain

14h — Alpha

15h — J. Lindeberg

 

31 de janeiro (quarta-feira)

7h — OpéraSport

8h — Skall Studio

9h — The Garment

11h — Wood Wood

12h — Mfpen

13h — Stine Goya

14h — Henrik Vibskov

16h — Baum und Pferdgarten

 

1 de fevereiro (quinta-feira)

6h — TG Botanical

07h — Munthe

08h — Gestuz

09h — Mark Kenly Domino Tan

11h — Marimekki

13h — Helmstedt

14h — Han Kjøbenhavn

15h — Rotate

 

E aí, preparada para acompanhar?

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