A semana de moda na capital dinamarquesa teve início em 2006 e, desde 2018, discute a importância de uma moda mais sustentável e diversa
Há pouco mais de uma década, pareceria estranho pensar que a moda escandinava pudesse se destacar. Entre uma população que tem a sustentabilidade como um dos grandes pilares, as roupas precisam ser práticas, para o deslocamento de bicicleta, e atemporais, para um guarda-roupas que não precise ser renovado a cada estação.
Embora diversas marcas, como Baum Und Pferdgarten, Saks Potts, Cecilie Bahnsen e Ganni, colaborem para colocar o Scandi-style na rota fashion, a Semana de Moda de Copenhagen (CPFW) é a grande responsável por voltar os holofotes para o estilo regional.
O encontro na capital da Dinamarca começou em 2006, no ano seguinte ao surgimento da Semana de Moda de Estocolmo. Enquanto sua irmã mais velha se dedicava a uma moda mais séria e minimalista, a CPFW chamava a atenção por um estilo mais eufórico.
Apesar das quase duas décadas de existência, foi apenas em 2018 que essa semana de moda passou a assumir a forma que hoje se conhece. Com o posicionamento de Cecilie Thorsmark como CEO do evento, as marcas passaram a ter que cumprir rigorosos padrões, especialmente, relacionados às preocupações com o meio ambiente.
Atraindo cada vez mais atenção, te contamos abaixo os motivos que fazem esse encontro bienal se destacar de todas as outras fashion weeks:
Comprometimento
Empenhada em se tornar referência em sustentabilidade, a CPFW é um reflexo da população local. Nos países nórdicos em geral, a população é encorajada, desde cedo, a passar tempo ao ar livre e a respeitar os recursos naturais. Assim, a mentalidade sustentável é espontânea para quem já está inserido naquela cultura, e isso inclui todos os aspectos sociais, inclusive, a moda.
Em 2020, o primeiro plano de ação de sustentabilidade da Semana de Moda de Copenhagen foi apresentado, com o objetivo de reduzir os impactos negativos da indústria, inovar o modelo de negócio e acelerar a mudança. Em 2022, um segundo plano se comprometeu em continuar o projeto e manter seus pilares: educar, reduzir e acelerar.
Nesse plano de ação, foram estabelecidos 18 padrões mínimos, de sustentabilidade e outras práticas, que todas as marcas do calendário de desfiles devem cumprir em seis áreas, que cobrem desde a confecção das peças até a venda final para o consumidor. São eles:
Direções estratégicas
- Incorporar sustentabilidade e padrões internacionais de direitos humanos;
- Incluir diversidade e igualdade no modelo de gestão, considerando esses aspectos durante a contratação de colaboradores, especialmente, para cargos gerenciais;
- Não destruir roupas não vendidas de coleções anteriores.
Design
- Projetar peças que aumentem a qualidade e o valor dos produtos econômica e materialmente, informando os clientes sobre o valor da longevidade;
- Encontrar uma segunda vida para amostras.
Escolhas inteligentes de materiais
- Pelo menos 50% da coleção deve ser certificada, feita de materiais preferenciais ou materiais sustentáveis de nova geração, reutilizada, reciclada ou feita de estoque antigo;
- Possuir uma lista de materiais preferenciais em vigor;
- Possuir uma lista de substâncias restritas em vigor, seguindo os requisitos da Diretiva EU REACH, e manter contato com os fornecedores para garantir conformidade;
- Produzir coleções livres de peles.
Condições de trabalho
- Comprometer-se em exercer due diligence na cadeia de suprimentos de acordo com diretrizes e padrões internacionais, trabalhando com os fornecedores para garantir, por exemplo, emprego livremente escolhido, emprego seguro e ausência de trabalho infantil;
- Comprometer-se a operar um ambiente de trabalho seguro, saudável e respeitoso para todos os funcionários, livre de assédio e discriminação, onde todos desfrutam de oportunidades iguais, independentemente de gênero, etnia, idade, orientação política/religiosa/sexual, aparência física e habilidades.
Engajamento com o consumidor
- Ter uma equipe de atendimento ao cliente, tanto em lojas físicas quanto online, bem-informada sobre a estratégia de sustentabilidade;
- Educar e informar os clientes sobre as práticas sustentáveis em diversas plataformas;
- Não utilizar embalagens plásticas de uso único em lojas ou para pedidos online, oferecendo alternativas recicláveis, recicladas ou reaproveitáveis.
Desfiles
- Produzir cenários e desfiles zero waste (sem resíduos);
- Nos bastidores, durante a semana de moda, não utilizar embalagens plásticas de uso único, oferecendo alternativas recicláveis, recicladas ou reaproveitáveis;
- Compensar ou neutralizar a pegada de carbono do desfile;
- Ser signatário da Carta Ética da Moda Dinamarquesa, considerando diversidade e inclusão ao escolher modelos.
Em um lugar onde novas marcas têm encontrado lugar para nascer e prosperar, a ideia é que as próximas gerações de criadores do país cumpram, desde a origem, práticas saudáveis para o meio ambiente e para a sociedade.
Com um projeto de transparência, a CPFW reporta, anualmente, seus esforços, apresenta os desafios e propõe soluções para enfrentá-los, abrindo espaço para o público construir, em conjunto, novos caminhos para o futuro.
Espera-se também que, com o tempo, cada vez mais semanas de moda e conselhos sigam exigências semelhantes para que possam, de fato, transformar a indústria.
O estilo dinamarquês
Em Copenhagen, o principal meio de transporte utilizado pelos locais é a bicicleta, por isso, roupas confortáveis são populares — e não estamos falando sobre vestes próprias para exercícios físicos. O dinamarquês busca praticidade em roupas que sejam adequadas para trabalhar, sair para jantar ou se divertir com os amigos.
Essa combinação entre funcionalidade e rigor dá aos designers a oportunidade ideal para usarem a criatividade e produzirem peças autênticas, diferente do que é feito em outros lugares do mundo. Se as outras grandes cidades da moda estão carregadas de expectativas e estereótipos (de Paris, espera-se seriedade; de Milão, glamour; de Londres, que seja descolada; e de Nova Iorque, elegância), a jovialidade de Copenhagen deixa seus criadores livres para construírem uma identidade própria.
Além disso, a Dinamarca é um país feliz — o segundo no ranking, segundo o World Happiness Report de 2023 — e isso se reflete na moda produzida. Em um local repleto de felicidade, a criatividade floresce e estampas divertidas e cores vibrantes traduzem os sentimentos eufóricos de quem as vestem.
Com tantos looks divertidos e experimentais, Copenhagen merece atenção quando se fala sobre o surgimento de tendências. A cidade tem, cada vez mais, pedalado para o centro da indústria da moda, levando frescor e novidade para esse universo.
O calendário de desfiles da temporada de Outono/Inverno 2024
Programada para acontecer entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro, esse ano, a CPFW não conta com a presença da Ganni, uma das marcas queridinhas de quem acompanha a moda dinamarquesa.
Em um anúncio que surpreendeu, a etiqueta que geralmente encerra a semana redirecionou seus esforços para uma parceria com a incubadora de talentos do evento, a NewTalent. Inclusive, quem abre a temporada esse ano é Nicklas Skovgaard, impulsionado pela iniciativa.
Sem sua atração principal, outros favoritos escandinavos prometem atrair o público, como Rotate, Stine Goya, Marimekko e Helmstedt. Confira abaixo a programação completa de desfiles*:
* Horário de Brasília
29 de janeiro (segunda-feira)
11h — Nicklas Skovgaard
12h — Alectra Rothschild/Masculina
13h — Forza Collective
14h — Won Hundred
15h — Saks Potts
30 de janeiro (terça-feira)
7h — Rolf Ekroth
8h — Aeron
9h — Stamm
11h — Lovechild 1979
12h — Vain
13h — Remain
14h — Alpha
15h — J. Lindeberg
31 de janeiro (quarta-feira)
7h — OpéraSport
8h — Skall Studio
9h — The Garment
11h — Wood Wood
12h — Mfpen
13h — Stine Goya
14h — Henrik Vibskov
16h — Baum und Pferdgarten
1 de fevereiro (quinta-feira)
6h — TG Botanical
07h — Munthe
08h — Gestuz
09h — Mark Kenly Domino Tan
11h — Marimekki
13h — Helmstedt
14h — Han Kjøbenhavn
15h — Rotate
E aí, preparada para acompanhar?