A temporada de moda de São Paulo acontece entre 9 e 14 de abril
A palavra-chave do segundo dia da São Paulo Fashion Week poderia ser “maturidade”. Representado em diferentes estágios e de diversas maneiras, o processo de evolução dos designers esteve presente nas criações apresentadas.
No projeto Cria Costura, dedicado a promover talentos na área da costura, a experiência é construída aos poucos em sala de aula, e, nas passarelas da SPFW, vemos os estudantes aflorarem seus talentos — um verdadeiro símbolo do amadurecimento.
Para Lilly Sarti, o conceito foi traduzido de forma literal: a marca comemora 18 anos, e a celebração provocou um verdadeiro agito no Shopping JK. Personalidades, como Gkay, Maju Trindade e nossa founder, Lelê Saddi, ocuparam a fila A, e a plateia toda se animou ao observar, de perto, as peças apresentadas pela grife. Com a maioridade, a identidade não é perdida, mas transformada, e o desejo de explorar novos caminhos e experimentar diferentes sensações esteve presente.
Já Lino Villaventura é maduro não apenas pelo tempo de casa — ele se apresenta na Semana de Moda desde a primeira edição, em 1996, quando ainda era chamada de Morumbi Fashion —, mas também pelo autoconhecimento e sagacidade. Quase três décadas mais tarde, o designer ainda sabe como captar a atenção do público: sem perder seu DNA, apresenta novas ideias e se reinventa diante do olhar de quem o acompanha.
E se a evolução vem com o tempo, Reptilia fez o encerramento perfeito para a terça-feira: modelos maduras desfilaram peças criadas para mulheres experientes, que sabem o que querem e são seguras de si.
Depois de uma edição N56 criticada, com críticos apontando o amadorismo da moda brasileira, o segundo dia dessa nova temporada vem para provar que os criadores nacionais estão, sim, se redescobrindo e se reinventando e que essa é uma parte fundamental em todo crescimento — seja na moda ou na vida.
Os detalhes do dia você acompanha abaixo!
Lilly Sarti
A marca atingiu a maioridade e, na comemoração de 18 anos, celebrou resgatando símbolos clássicos de sua história, como o jacquard, lamês, babados e texturas mil.
Mais do que seguir trends do momento, a coleção é inspirada no guarda-roupa da matriarca da família Sarti, como Lilly nos contou nos bastidores: “É um compilado de toda a essência maior da marca (…), uma inspiração genuína em Sofia, nossa mãe”.
A atemporalidade das peças não impediu, contudo, a grife de entrar na onda do momento: o estilo western — ou faroeste. Botas no estilo cowboy, cintos largos, couro e franjas são reinventados e combinados à camisaria, estampas e tecidos finos.
A combinação improvável (mas certeira) esteve presente em praticamente todos os looks: vimos mix de tramas e padronagens, sobreposições e a mistura do prateado com o dourado (amada por muitos, temida por outros).
Na beleza, assinada por Branca Moura, mais detalhes inusitados: a profissional substituiu o delineador por recortes de papel cromado metalizados, e, nas têmporas, o efeito molhado ficou por conta da aplicação de gloss.
Lino Villaventura
Com segurança e ousadia, a grife, que é veterana na Semana de Moda de São Paulo, apresentou uma coleção com muita identidade. Armações de arame criaram formatos inusitados, e, apesar do patchwork desfilado pela top Isabella Fiorentino e dos paetês coloridos combinados a sapatos igualmente vibrantes, o show ganhou uma vibe gótica-suave, quase sombria.
Looks inteiro pretos, casacos alongados e silhuetas com recortes e pontas assimétricas foram contrastados a visuais fluidos em tons claros. Contraposições que traduzem perfeitamente a capacidade do designer de fugir do óbvio e surpreender, ano após ano, com peças artesanais, únicas e de muito bom gosto.
Cria Costura
O projeto é fruto da parceria entre a Prefeitura de São Paulo e o Inmode, que desenvolvem um trabalho dedicado à capacitação de profissionais em diversas regiões de São Paulo: Carrão, Brasilândia e Cidade Tiradentes.
A turma que participou desta edição foi coordenada por Jefferson de Assis, e a coleção criada teve bonecas como ponto de partida. O conceito, inclusive, apareceu na beleza comandada por Ricardo dos Anjos, que exagerou nos cílios e nas bocas rosadas.
O desenvolvimento começa com uma ideia criada pelo estilista, e, em conjunto, o moodboard é montado — um coletivo de inspirações e referências.
Em grupos, os estudantes trabalharam com materiais específicos: alguns exploravam a renda, que apareceu em preto e branco, outros inovavam no uso da organza cor-de-rosa, enquanto outra equipe fazia arte com paetês azuis.
Em um grupo tão diverso e empolgado, o resultado já era esperado: uma mistura de recortes, técnicas e silhuetas.
No final do desfile, cada aluno se posicionou à frente de sua obra, e, assim, o público pode conhecer, e aplaudir de pé, os artistas responsáveis por um show tão especial.
Reptilia
Estreante na passarela da SPFW, a marca de Heloisa Strobel apresentou Indelével, uma coleção que explora diferentes silhuetas e materiais. O tecido atoalhado apareceu ao lado da malha, do veludo e da poliamida transparente, mostrando que a novata não é inexperiente.
Experiência que é traduzida, também, pelos modelos escolhidos para vestirem as peças. Mulheres maduras exibiam confiança e estilo, mostrando que a moda da Reptilia (ou a moda por si) é para todas as idades.
Nas criações, ombros largos, saias volumosas e silhuetas assimétricas ilustram as referências de moda, arte e arquitetura, e zíperes e cordões reforçam a versatilidade das peças, que podem ser encurtadas ou modificadas de acordo com a necessidade.
A beleza, assinada por Vanessa Rozan, era radiante e natural, e tons de marrom marcaram o rosto e esfumavam os olhos das modelos.