Crônica: Será que estou na idade?

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Tainá Falcão

Tainá Falcão

Contos & Crônicas
17/07/2019 - por Tainá Falcão

Essa semana, um grande amigo me perguntou quando passarei a mentir a idade. Dei risada. Ele me olhou com ar sério, como se estivesse à espera de um prazo. Não sabia o que dizer. “Ah, poxa! Como posso ter esquecido algo tão importante para a sobrevivência da mulher moderna? Devo estar ficando velha”, imaginei sem dizer nada. Deixei para lá, embora o diálogo tenha me assombrado por alguns dias.

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Sempre tive gostos peculiares para o meu tempo. Enquanto minhas amigas colecionavam pôsteres dos Hanson, eu sonhava com John Lennon na fase do Twist and Shout – e ignorava o fato dele ter morrido oito anos antes do meu nascimento. Antes disso, aos 11, meu primeiro sinal de amadurecimento veio acompanhado de um berro no banheiro de casa. A novidade entre a família era que eu havia virado “mocinha”. Não vi vantagem alguma naquilo. Enquanto meus primos se divertiam no mar, eu acenava da areia e despedia-me também da menina dentro mim. Aos 12, não sentia desejo, mas curiosidade. Pedi para uma amiga convidar para o aniversário o coleguinha da escola com nome de cantor sertanejo, Victor Matheus. Roubei-lhe um beijo inocente às escondidas, sem me dar conta daquele pequeno ato libertário.

Na adolescência, vieram outros beijos e outros amores platônicos. Aos 18, pela primeira vez na vida, pude usar aquela frase clichê: “Não é você, sou eu”. E foi assim que terminei meu primeiro namoro. Achei que estávamos indo rápido demais… Com razão. Ele havia acabado de me presentear com Amor Líquido, de Zygmunt Bauman. Daí por diante, fiz minhas escolhas e paguei por todas elas. Saí da minha cidade, do conforto do lar, para encarar sozinha um lugar inóspito como Brasília.

Sob o céu mais bonito do Brasil, acabei com ojeriza ao pôr-do-sol. Até hoje não sei explicar o mal-estar que um fim de tarde me causa – minha terapeuta, sim rs. Talvez tenha a ver com uma reflexão mais profunda: um dia a menos, menos chances, menos vida. Fiz um trato comigo mesma: não conto mais quantos anos tenho. Se querem saber, descubram por conta própria. Nada pessoal. Após tantas confissões: traumas pueris, amores juvenis e crises de ansiedade, não aguentaria ser chamada de antiquada.

1 comentários

  1. Mai Dornelles disse:

    QUE TEXTO LINDOOO!!!! AMEIIII a nova colunista!

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